sábado, 10 de novembro de 2012

Bom Dia Vietnã: Músicas de Protesto

Depois do excelente feedback recebido pelo post sobre The Final Cut, produzirei uma coluna quinzenal que relaciona temas históricos  com a música ( convenientemente adotando o nome do repercutido filme do Robbie Willians para o propósito).
No post de hoje abordarei algumas  Músicas de Protesto , analisando um pouco de seu contexto, nos mais variados gêneros e perídios históricos. Declaro, portanto, inaugurada a minha coluna.

Bom Dia, Vietnã!

  • Era um garoto, que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones




Essa música foi composta por Franco Migliacci( letra) e Mauro Lusini(música) e foi feita para Gianni Morandi, cantor de música popular italiana e vencedor do Prêmio Musical de Sanremo  em 1966, em plena Guerra do Vietnã( que começou em 1955 e os EUA entraram em 1963). Foi traduzida pela banda Os Incríveis e depóis gravada pela banda Engenheiros do Havaí para ser a segunda faixa do álbum O Papa é Pop de 1990, a banda é composta por Humberto Gessinger (voz e baixo), Augusto Licks (guitarra) e Carlos Maltz (bateria).



Logo no título da música o compositor já fala que podia ser qualquer um, até mesmo ele('Era um garoto que como eu'), há também outra analogia, o garoto era americano mas só cantava músicas de bandas inglesas(Girava o mundo/
Sempre a cantar/As coisas lindas/Da América.../Não era belo/Mas mesmo assim/Havia mil garotas afim/Cantava Help/And Ticket To Ride/Oh Lady Jane, Yesterday...) simbolizando que ir a guerras e matar seu próprio povo é uma característica dos países imperialistas, incluindo Inglaterra e outros entre esses. Ao ser chamado para ir a guerra, teve qua abandonar tudo o que mais amava, sua guitarra e as músicas que cantava (Da sua guitarra,/ o separou/Fora chamado na América.../Stop! Com Rolling Stones/Stop! Com Beatles songs/ Mandado foi ao Vietnã/Lutar com vietcongs...)
No final da música há uma forte crítica aos países que enviam sua população a guerra e o final da sua tragédia iniciada com a convocação para a guerra (Nem toca a sua/Guitarra e sim/Um instrumento/Que sempre dá/A mesma nota/Ra-tá-tá-tá... Ao seu país/Não voltará/Pois está morto/No Vietnã.../Stop! Com Rolling Stones/Stop! Com Beatles songs/No peito um coração não há/Mas duas medalhas sim....) Na última estrofe há uma crítica a inutilidade de dar medalhas a pessoas que já morreram enquanto ainda poderiam estar vivas se ficassem em sua terra. Em toda a música, o som de metralhadoras é cantado, principalmente na metade e no fim da música(Ratá-tá tá tá...Tatá-rá tá tá.) 





  • Imagine




Essa música composta por John Lennon para o álbum Imagine lançado em 9 de setembro de 1971 e teve Lennon no piano e voz, Klaus Voormann no baixo, Alan White na bateria e Flux Fiddlers nas cordas. A música foi composta pouco depois da separação dos Beatles e em um momento em que John e Paul McCartney estavam brigados com Lennon dizendo para Paul que Imagine era Working Class Hero (composta por John em 1970) açucarada para conservadores como McCartney. O co-produtor(junto com John e Yoko) Phil Spector disse que Imagine era uma espécie de hino.
Logo no começo da música há uma crítica as religiões, o que levou a Imagine ser proibida de ser tocada em funerais mas muitas pessoas não entendem o significado, de não haver guerras por religião(Imagine there's no heaven/It's easy if you try/No hell below us/Above us only sky), depois há o trecho que foi fundamental
para que essa música se tornasse o hino dos pacifistas(Imagine there's no countries/It isn't hard to do/Nothing to kill or die for/And no religion too/Imagine all the people/Living life in peace) e depois Lennon amplia o pacifismo que defende no começo da música (imagine no possessions/I wonder if you can/No need for greed or hunger/A brotherhood of man/Imagine all the people/Sharing all the world) e finaliza a canção ao falar que as populações queram a paz e não a guerra e diz esperar que um dia todos se juntem pelo ideal da paz entre os homens (You may say,/I'm a dreamer/But I'm not the only one/I hope someday/You'll join us/And the world will live as one). 
Essa música foi extremamente recebida, atingindo rapidamente o topo das paradas musicas americanas e inglesas, sendo descrevida pela Rolling Stone como o maior presente musical de Lennon para o mundo e se transformou em um verdadeiro hino dos pacifistas. Foi regravada por diversos cantores e bandas, como Elton John, Stevie Wonder e Neil Young.




  • Roda Viva





Essa canção foi escrita por Chico Buarque para a peça de teatro Roda Viva, escrita por Chico em 25 dias, tendo sua estreia no começo de 1968. É uma crítica direta a ditadura mas de alguma forma inimaginável foi aprovada pela censura da ditadura mas por causa dessa temática e também sobre outras canções criticando o governo militar, membros do CCC(Comando de Caça a Comunistas) invadiram as estreias em São Paulo e Porto Alegre, destruindo o cenário e agredindo os atores.
Foi gravada por Chico junto com o conjunto MPB4, formado na época por Miltinho no violão, Ruy, Magro e Aquiles na voz, Por essa gravação Chico ficou em terceiro lugar no III Festival de Música Popular Brasileira, vencida por Edu Lobo e Capinam com a música Ponteio.
Logo na primeira estrofe Chico já mostra o assombro que a população sentia por uma mudança súbita do governo para uma ditadura que sufocava a população na época (a musica foi composta no começo de 1968 e o AI-5, que suspendeu todas as liberdades constitucionais e dissolveu o congresso, foi lançado no final desse ano) por meio de medidas repressivas (Tem dias que a gente se sente/Como quem partiu ou morreu/A gente estancou de repente/Ou foi o mundo então que cresceu...).
Na segunda estrofe ocorre uma grande crítica direta a ditadura ao falar que ele leva embora todos os planos e desejos do povo (A gente quer ter voz ativa/No nosso destino mandar/Mas eis que chega a roda viva/E carrega o destino prá lá ...) e analogias como essa se repetem pela maioria dos versos da música, em outro trecho cheio de metáforas Buarque fala que as pessoas tentavam se rebelar e lutar contra a ditadura mas acabavam desistindo por não conseguir aguentar as medidas em resposta do governo, como ataques das forças armadas a manifestações e prisões, e por isso sentiam que não haviam feito tanto quanto podiam e deviam(A gente vai contra a corrente/Até não poder resistir/Na volta do barco é que sente/O quanto deixou de cumprir).
Há no refrão um trecho muito interessante, em que Chico afirma que todas aquelas mudanças foram inesperadas e repentinas de modo que tudo passou rápido para ele, todas as mudanças que lhe deram vontade de se opor aos militares(O tempo rodou num instante/Nas voltas do meu coração...)





  • Fortunate Son




Essa música foi escrita por John Fogerty em 1969 em aproximadamente 20 minutos e foi lançada no álbum Willy and the Poor Boys abrindo o lado B. A banda era formada por John Fogerty (guitarra e voz), Tom Fogerty (guitarra), Stu Cook(baixo) e Doug Clifford(bateria).
Essa música foi escrita quando o neto de Eisenhower se casou com a filha de Nixon e eles pensaram que pelos dois serem parentes de poderosos não iriam para a guerra, igualmente a todos os parentes e amigos de poderosos, principalmente de Nixon. Muitas pessoas interpretam essa música como um hino patriótico por não entenderam o sarcasmo que faz com que essa música seja uma crítica a Guerra do Vietnã. Essa foi uma das primeiras músicas a falar de que os ricos nunca vão as guerras, deixando isso para os pobres.
A música começa falando que alguns nascem para serem soldados e servirem ao exército
(Some folks are born to wave the flag, /Ooh, they're red, white and blue.)  mas logo depois no refrão o narrador, que está lutando no Vietnã afirma que não é ele porque ele não deu sorte, pois os que são nascidos para servirem no Exército ficam em segurança nos EUA por serem filhos de senadores
(It ain't me, it ain't me, I ain't no senator's son, son./It ain't me, it ain't me; I ain't no fortunate one, no, ). Depois Forgerty continua com as metáforas, falando que os ricos sonegam acreditando na impunidade por serem amigos de Nixon mas quando vem que não há isso começam a fazer de tudo para se livrar dos problemas (Some folks are born silver spoon in hand, /Lord, don't they help themselves, oh./But when the taxman comes to the door, /Lord, the house looks like a rummage sale, yes, ) e novamente no refrão o narrador reafirma que não é ele, porque ele não é filho de um milionário.
Na última estrofe Forgerty critica as pessoas que estão no poder que enviam os homens para a guerra e sempre pedem mais enquanto na realidade eles deveriam ir lutar antes de enviarem metade dos jovens americanos para irem lutar numa guerra que nem era deles(Ooh, they send you down to war, Lord, /And when you ask them, "How much should we give?" /Ooh, they only answer More! more! more! yoh, ) e novamente no refrão o narrador afirma que não é ele porque ele não é filho de militares.


E então recrutas, qual música de protesto esquecemos de por na lista?

- Roberto Malta





2 comentários:

  1. Muito legal a ideia do post! Estou curiosa para ler mais dessa coluna! Para mim faltou Another Brick in the Wall, Pink Floyd.

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  2. Mauko: analise a musica "a cançao do senhor da guerra" legiao urbana

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